O fotógrafo Anil Prabhakar captou este momento em que um orangotango, na Indonésia, oferece a mão ao homem que está na água enlamaçada, num gesto claro de auxílio. A internet logo foi inundada por matérias, memes, tweets e coisas assim realçando toda a humanidade do gesto do macaco indonésio. “Parece até gente!”, escreveu um anônimo ao compartilhar a matéria do site da CNN.
Parece mesmo?
O mito de Narciso conta a história de um homem que se apaixonou pelo seu próprio reflexo e, em consequência dessa paixão, morreu por isso. É bem comum que enxerguemos atitudes humanas nos bichos, porque o Narciso em nós procura seu espelho em todos os lugares. Vemos no gato uma empáfia e um desdém, vemos no cão uma subserviência e uma constante felicidade, vemos algo no elefante, no golfinho, no macaco, na vaca e já apontamos e classificamos como “humano”.
Nosso ego é imenso. Nossas invenções foram tão longe que acreditamos ser o suprassumo de tudo que a terra poderia ter almejado.
Mas não somos.
Somos apenas mais um dos símios do planeta.
As pessoas deveriam estar menos espantadas com o fato do orangotango querer oferecer ajuda, sem nada em troca, e muito mais espantando de que esta espécie de macaco está em risco de extinção pela nossa exploração grosseira dos recursos naturais e pela nossa absoluta falta de humanidade. Definitivamente nós não somos o único bicho que mostra empatia, nós somos o único bicho que destrói “porque sim”.
O Narciso em nós é apaixonado pela imagem que achamos que temos, não pela realidade, porque perdemos há muito tempo nosso real poder de reflexão.
Andrei Moscheto
coordenador do Instituto Shukikan
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