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Minha convivência com pessoas mais velhas, algumas pouquíssimo mais velhas (apenas meses) me fez ver um auto dogma estranho e repetido: a certeza da impossibilidade de mudar. Sejam habilidades físicas, seja a personalidade, a pessoa já vive a sua "eternidade enquanto dure" com a resolução absoluta de todas as suas possibilidades terrenas e, gostando ou não, está (auto) fadada a conviver consigo mesma.
Sabendo que vivo num planeta em que a diferença em ser um bilionário e de viver na extrema pobreza está a passos de acontecer com todo nós, é óbvio que isso é mentira. Somos bichos adaptáveis, que vivem em diferentes partes do planeta, aprendendo e se adaptando com destreza. Somos o oposto desse auto dogma: estamos sempre prontos a mudar.
Eu sei, você já tá pensando "é um texto aqui no Instituto Shukikan e já sei que é o Andrei querendo que eu treine com o Wilson e/ou faça Ki Aikido em 2023", né?
Sim, é claro! (diz ele em tom confessional) - mas acho que vai um pouco além. Talvez por culpa do autor Leonard Mlodinow e seu livro "Subliminar", estou fascinado o quanto as pessoas chegam a conclusões que limitam as suas próprias vidas com decisões baseados em pouco ou quase nada.
Porque o que me chama a atenção é a certeza! "Ah, eu não posso fazer exercícios assim", quando rebatido com a possibilidade de fazer outro tipo de exercício é contra argumentado com "não vai dar pra fazer isso porque nunca tenho esse tempo". Quando se tenta relativizar o tempo (afinal, existe um pequeno Einstein dentro de nós) o argumento muda para "eu já me conheço" e aí o debate acaba. Claro, porque ninguém se conhece melhor do que a própria pessoa e é por isso que consultórios psicológicos estão vazios e o mundo está tão bem (diz ele em tom irônico).
Acredite, eu não sou o ingênuo que acha que TUDO É POSSÍVEL SE VOCÊ ACREDITAR, como querem fazer acreditar esses "coachs" de internet que nem se importam com o que a angústia e a decepção farão com a pessoa. Eu tive uma excelente lição, bem cedo na vida, quando morei no Japão.
Meu pai hospedeiro, Hitoshi Yamakawa, frequentemente ficava conversando comigo até tarde da noite. Numa dessas conversas ele me contou que, na sua adolescência, um professor de judô de sua escola viu que Hitoshi tinha uma perna bem menor, menos desenvolvida que a outra, e que foi sincero com ele ao dizer que o judô não era o caminho mais fácil e que, pelos desenhos dele, ele deveria focar seu esforço nessa outra atividade. Meu idealismo juvenil subiu garganta acima, praticamente xingando o professor de capacitista, defendendo o meu pai hospedeiro com algumas décadas de atraso. Hitoshi sorriu, esperou o meu ímpeto frear e me falou:
- Esse professor não me proibiu de nada. Ele só apontou um caminho de possibilidade que eu poderia ou não seguir. No final, quem tomou a decisão fui eu. E eu agradeço a esse professor. - disse meu pai hospedeiro, que fez a sua carreira e vida na sua habilidade de desenhar.
Dito isso: eu não acho que tudo é possível, mas acho que muitas coisas são possíveis. Eu duvido que você aos 46, 56, 66, 76, 86, 96, tenha a plena consciência de absolutamente todas as suas possibilidades simplesmente porque outras surgem a cada novo dia.
Ao entrar num novo ano é importante lembrar disso: é possível mudar, mexer, transformar, e o caminho para isso pode ser positivamente revelador mesmo que se conclua em fracasso dos seu primeiro objetivo. Pessoas que queriam correr e descobrem o benefício de caminhar, pessoas que querem porque querem fazer exercício matinal e descobrem que a paz e o silêncio matinal funcionam como um impulso extra para o seu dia, pessoas que querem fazer dietas radicais e descobrem o valor de coisas mais naturais. Há sempre aprendizado em novos caminhos.
Por isso, ao cruzar a barreira mágica dos anos, lembre que a renovação é factual e que novas possibilidades surgem pela nossa vontade e ação de transformar.
Fiquem bem e que seja um feliz ano novo para todas as pessoas ao seu redor.
Andrei Moscheto
coordenador do Instituto Shukikan
obrigada pela linda reflexão