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As viradas de ano sempre são carregadas de análises numéricas. Mostram aquilo que cresceu, o que diminuiu, se manteve na mesma, quase todas sem nenhuma pesquisa mais aprofundada das razões que causaram a oscilação. Aqueles que mais surpreendem acabam grudando na memória e fico pensando o que há detrás do número em si (muito obrigado ao professor Valdemiro, no meu ensino médio, que botou uma pulga atrás da orelha que nunca mais saiu de lá).
O assunto que mais me chocou, na virada do ano, foi o crescimento de células neonazistas no país. Fiquei estarrecido, porém não muito surpreso. O fenômeno tem acontecido em outros países também.
Então, compartilhando um tostão dos meus pensamentos: por que algo assim, que causou tantas mortes e foi um crime contra a humanidade tão absurdo, encontra nos dias alguém que concorde com isso?
Porque é fácil.
Minha vida tem alguma coisa errada ou frustrante e eu descubro que isso pode ser culpa de outra pessoa que não eu mesmo? Perfeito! Não é possível que os problemas que eu enfrento sejam COMPLEXOS de se entender, eu quero uma resposta FÁCIL. Eu quero uma resposta já. Eu quero algo que não dê muito trabalho e que eu possa me sentir sendo parte da ação que vai melhorar “tudo isso que está aí” – um bordão gasto por todos os políticos que nem fazem ideia sobre o que estão falando.
Não estou dizendo, de maneira nenhuma, de que eu tenho uma resposta FÁCIL pra explicar para você porque algo racista/homofóbico/misógino cresceu no nosso país. Essa é uma questão COMPLEXA e merece estudo e controle para que algo tão ruim pare de expandir. Estou escrevendo, até para alertar a mim mesmo, que buscar uma saída FÁCIL faz parte da nossa natureza e podemos cair em outras armadilhas por causa disso.
“Ah, que exagero, eu nunca seria um nazista”, diria uma pessoa antes de ver o filme A Onda*. Ok, talvez você não fosse mesmo, nunca, mas me diga se você já procurou ou teve vontade de:
- fazer uma dieta que, esta sim, sabe o que vai te “secar” em sete dias
- investir seu dinheiro, mesmo você tendo pouco, pra você ficar rico
- aprender magicamente uma língua estrangeira
- encontrar o amor da sua vida
Nossa existência é muito complexa e somos pressionados, o tempo todo, a ter um corpo diferente do nosso, dinheiro maior que o nosso, a consumir algo que ainda não consumimos. Vivemos nossa existência dentro de um mercado de nós mesmos em que a versão de hoje precisa ser atualizada, porque a próxima não vai sofrer, não vai ter questões com o corpo, não precisará de mais dinheiro, estará “perfeita”.
Isso não é verdade e, no fundo, você sabe.
Quando um grupo grande de pessoas está frustrado com diversas coisas, fica FÁCIL pra que ideias esdrúxulas encontrem uma parcela de pessoas que considere que tudo de ruim tem que ser culpa daquela outra “raça”, daquele outro país, daquela outra religião, daquele outro partido, daquele qualquer-coisa que não seja eu.
Clicar em propaganda de dieta é diferente de usar suástica? Muito. Mas entender que temos, em nós, os mesmos gatilhos que poderiam ser apertados para que tomássemos rumos muito ruins para as nossas vidas, faz parte de encarar a nossa humanidade e repensar para que certas atrocidades não se repitam.
Andrei Moscheto
Coordenador do Instituto Shukikan
* O filme A Onda conta uma experiência que aconteceu no final dos anos sessenta numa escola americana. Um professor fez com que seus alunos mudassem de comportamento, “comprovando” que (em situações específicas) muitos deles teriam sido partidários do nazismo caso morassem na Alemanha naquele período histórico.
OUTRAS DICAS:
- A pesquisadora Adriana Dias (@dias_adriana) é bastante ativa em denunciar racismo e movimentos neonazistas no Brasil.
- Aceitar a complexidade do mundo não é uma derrota, é uma ferramenta de encantamento com a nossa vida ;)
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