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Celebração em vida

Foto do escritor: Andrei MoschetoAndrei Moscheto

Ontem de noite tivemos um grande acontecimento da Música Popular Brasileira, que foi a despedida do genial Milton Nascimento dos palcos. Ele vai deixar de fazer turnês, mas segundo o próprio cantor, não deixará de compor e de gravar. Por uma dessas coincidências trágicas do destino, o show foi na mesma semana em que Gal Costa nos deixou, que Rolando Boldrin nos deixou, que outros artistas com menos renome nacional nos deixaram, o que me fez refletir sobre a necessidade da celebração em vida.


Em nosso profundo medo do assunto morte, inventamos um código de convivência no qual sempre fingimos que isso não é um futuro compartilhado. Então, quando acontece, nossa reação instintiva é sempre a de surpresa - mesmo quando sabíamos que alguém estava muito enfermo ou debilitado. Eu sempre tenho comigo uma frase, que um amigo meu dizia com um sotaque tipicamente do interior do Paraná, que é de uma profundidade popular imbatível:


- Nossa, quanta gente que não morria que agora tá morrendo, né?


Pela inevitabilidade do destino, é muito sábio celebrar em vida a trajetória de artistas que marcaram nossa história. Então ontem, dia 13 de novembro, 50 mil pessoas ao vivo e milhões online (como eu), celebraram a existência de um dos grandes mestres da MPB.


É importante dizer: não foi um velório de corpo presente, tá? Milton tem restrições sérias de movimento, devido a uma diabete tipo 2, mas segundo seus médicos está com saúde. O show ontem fez homenagem a uma longa carreira, aos parceiras e parceiras de composição, ao Clube da Esquina, a uma história pessoal que povoa a história de cada fã. Com todo respeito as outras artes, mas música parece carregar em si o poder de nos transportar a momentos da nossa existência imediatamente, um túnel do tempo automático. A cada música de Milton a gente era jogado na idade em que escutamos pela primeira vez, quando cantamos em conjunto com amigos, quando dançamos, quando celebramos, quando choramos.


Celebre as pessoas amadas, artistas ou não, em vida. Lembre da inevitabilidade do destino, daquele assunto que fingiremos surpresa (porque ninguém quer falar dele) como algo que deixa a nossa existência ainda mais valiosa. Afinal, "O que importa é ouvir a voz que vem do coração".


Andrei Moscheto

coordenador do Instituto Shukikan


foto: Glaucimara Castro / BS Fotografias

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