top of page
Buscar

Cada dia é um dia

Foto do escritor: Andrei MoschetoAndrei Moscheto

Atualizado: 20 de jan.

foto original de Matthew Williams-Ellis
foto original de Matthew Williams-Ellis

No nosso mundo digital deste ano de 2025, até parece errado quando você passou a semana sem ter feito nada de extraordinário. "Poxa, nada que pudesse ser um vídeo que impressione os outros e que me dê um monte de dopamina por curtidas". Nossa vida real é uma grande montanha-russa de grandes acontecimentos pontuais, mas composta por longos, longos, longos períodos de dia a dia, rotina, de continuação. Isso não deveria ser um problema, mas pode vir a ser caso a gente confunda o que a rede social vende com a verdadeira vida real.


Esse assunto tá fresco na cabeça porque, ano passado, nosso grupo de teatro Antropofocus estreou um espetáculo chamado "Bom dia, grupo!" que conta a história de uma mãe que cai num desses golpes de falso sequestro por whats e, mesmo com o filho de verdade em casa, ela não sabe se o que está vendo é verdadeiro ou não. Todos os personagens da peça usam e manipulam o que é verdade e o que é mentira em seu próprio benefício - e sofrem suas consequências.


Nossos dias são todos iguais, aí pra fugir desse marasmo a gente entra no buraco do coelho, assiste trezentos vídeos, quatrocentos fotos photoshopadas, e voltamos pro nosso dia que acabou de piorar muito. Meodeos, eu não fiz 7 horas de academia, não cozinhei comida de chef francês, não sei tocar um instrumento, ainda não sei um idioma estrangeiro e todo mundo me dizendo que isso é facinho de fazer.


Não é fácil fugir disso. Eu não fugi e, sendo sincero, se você está lendo isso é porque você viu o link deste post numa dessas quedas pelo buraco do coelho.


A solução não é fingir que o celular não existe e mentir pra si mesmo que NUNCA MAIS... quando dali cinco minutos alguém que você gosta vai te mandar alguma coisa e você volta, com tudo, muitas vezes com mais dependência.


Estou sempre com o fone de ouvido, pronto pra escutar podcast durante a louça, vídeo novo enquanto arruma a cama, escutar aquele filme do Netflix do qual você não faz tanta questão enquanto responde emails. É estranho se dar conta que a gente desaprendeu a ficar minimamente enfadados. Num ponto perigoso em que, regularmente, uma conversa entre amigos é interrompida pela pessoa dar uma passadinha pelo buraco do coelho e voltar - já vi acontecendo no momento em que o foco da conversa não era a pessoa e, mais grave, já vi acontecer no meio da fala de uma pessoa. Já vi e - certeza - já devo ter feito.


Mas uma ajuda, pra tentar quebrar esse ciclo, é considerar que cada dia é um dia.


É um pequeno mantra que ajuda a lidar melhor com ansiedades e com vícios, coisas que todos temos. "Cada dia é um dia" impede a gente de se comparar com ontem, de ficar fazendo expectativas sobre amanhã e de, minimamente, tentar estar presente ao longo da sua rotina. Não é, de jeito nenhum, uma mentira do tipo "lavar louça é a melhor coisa do mundo". É mais uma economia de foco: onde estou focando agora, isso é necessário/importante/gostoso de ser feito.


Cada um desses buracos de coelho pertence a um bilionário diferente que tá💩pra você e pra mim. Ele fez esse bicho pra fazer dinheiro. Já fizeram grana o suficiente pra 15 gerações, usando pra isso nosso foco, nosso tempo e esses bichos fazem a gente acreditar que a nossa vida nunca tá boa o suficiente pra gente sempre voltar. Quando a gente tem mais ansiedade (e mais medo do futuro) um bilionário tá sorrindo.


Então, por isso, vamos exercitar o "Cada dia é um dia", pra gente lembrar que o País das Maravilhas só vale a pena porque é baseado no nosso mundo real e é por um período curto de tempo.

7 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page