Depois de alguns dias, Saburou notou que era capaz de ouvir cigarras trinando, o som do vento tocando a folhagem, e mesmo o uivo de uma pantera e de um lobo no fundo da floresta. Feliz, ele contou tudo isso para seu professor.
“Que maravilha. Agora você também pode ouvir a Voz do Céu,” o guru replicou.
Saburo tentou muito ouvir a Voz do Céu, no entanto, ele não ouvia nada. Não havia nem mesmo um sinal.
Ele perguntou ao professor de yoga, “Como a Voz do Céu se parece?”
“Você também ouve a Voz da Terra quando tenta ouvir a Voz do Céu?”
“O quê?”
Cariapa esclareceu, “Você pode naturalmente ouvir a Voz do Céu se você não ficar preso às vozes da terra que entrarem em seus ouvidos.”
Saburo estava intrigado, mas continuou tentando ouvir a Voz do Céu. “Eu vou tentar ignorar as Vozes da Terra,” Ele pensou. Mas quanto mais ele tentava, mais as vozes se cravavam e sua mente.
Dia após dia ele continuou sua prática meditativa na busca de ouvir a Voz do Céu. Ele acabou ficando irritado. Ele detestava a idéia de fazer mais uma pergunta ao guru, e começou a ranger os dentes de frustração.
Todos os dias ele sentia grande sofrimento. Ele chegou a ter o impulso de jogarse na base da queda d’água. “Quantos dias mais vou precisar passar deste modo?” ele perguntava a si mesmo.
Um dia, enquanto estava sentado de olhos fechados, ele sentiu alguma coisa lambendo seu joelho. Ele abriu os olhos e viu um animal negro, do tamanho de um cachorro grande. Rapidamente Saburo deu-se conta que aquilo não era um cachorro. Era uma pantera negra.
Saburo encarou a pantera. A pantera encarou Saburo. Ele olhou dentro de seus olhos brlhantes e sua mente esvaziou-se por ela mesma como já tinha acontecido em sua meditação. Ele nada fez, e lentamente o animal desceu seguindo a corrente.
Após o animal desaparecer, Cariapa apareceu e correu até ele.
“Você viu a pantera?”
“Sim, eu a vi.”
“Está tudo bem?”
“Sim, eu estou bem, senhor.”
Saburo ouviu que a pantera negra dos Himalais são conhecidos por serem as mais ferozes e perigosas do mundo. No caminho de volta à vila, naquela tarde, o guru perguntou a ele, “Você sentiu algum medo quando se encontrou com a pantera?”
“Não, nenhum medo.”
“Então você sera capaz de ouvir a Voz do Céu no devido tempo. Quando os seus olhos e os olhos da pantera se encontrara, você não agiu ou pensou coisa alguma. O natural, o não forçado, o sentimento inocente é muito importante. Não esqueça esse sentimento!”
Três meses passaram, Saburo ainda não conseguia ouvir a Voz do Céu.
Ele contou a Cariapa, “Está parecendo muito difícil ouvir a Voz.”
“Se você pensa desse modo, isso pe difícil. Você agora ouve pássaros trinando e cigarras cantando. Mas quando você me ouve, sua mente os percebe, ainda assim, você não está preso a eles. É por isso que você pode me ouvir, certo? É isso. É a mesma coisa. É tão simples.”
Saburo tentou novamente e novamente ouvir a Voz do Céu, e isso quase o levou à loucura. Ele se sentia humilhado. A pesada carga em sua mente estava chegando ao limite.
Um dia, Saburo pensou, “Não quero mais! Eu paro aqui. Eu desisto.”
E ele se levantou e gritou, “Qual a utilidade disso? Eu vivi toda a minha vida sem ouvir a Voz do Céu. Ao inferno com isso! Dane-se!”
Ele se jogou sobre a grama com o rosto para cima. Ele semicerrou os olhos e olhou para o céu. Alguns flocos de nuvens estavam flutuando. Lentamente ele ficou mais interessado naquilo, e atraído pelas mudanças de formas de cada nuvem. Sem perceber, ele naturalmente encontrou a si mesmo nada fazendo e nada pensando, e através de seus ouvidos estava recebendo diversos sons que vinha de seu derredor.
Naquele instante, ele alcançou uma profunda realização, e ele penetrou fundo no íntimo da natureza da vida.
Ele disse a Cariapa quandoe stavam deixando a montanha, “Eu estava olhando as nuvens, e de repente eu senti a mim mesmo nada pensando ... de qualquer modo, eu não ouvi a Voz do Céu.”
“Muito bem, você finalmente ouviu a Voz.”
“O que você quer dizer com isso?”
“A Voz do Céu é a voz sem voz – a absoluta imobilidade.”
“Eu entendo…. Bem, eu tenho outra questão. O que acontece se você ouve a Voz?”
Cariapa simplesmente respondeu, “Sua vida agora está cheia com uma infinita e natural energia vital.”
“Energia vital natural?”
“Logo, daqui alguns dias, os sinais disso estarão presentes de modo claro e evidente para você.”
Lágrimas escorreram dos olhos de Saburo e caíram pela sua face. Ele pensou, “Eu estudei medicina na Universidade, mas eu não pude ver esta verdade. Agora o universo, tentando salvar um tolo como eu, suspira algumas palavras preciosas por meio deste homem velho.”
E ele chorou de júbilo. Isso foi em 1912, e ele estava com 36 anos. Deste modo, Saburo experimentou Satori, ou a realização espiritual. Sua doença havia desaparecido.
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