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Eu conheci Doris logo depois que mudei para Curitiba, em 86. Ela trabalhava com meu pai numa concessionária de automóveis no centro. Uma mulher de descendência alemã que sempre tratava a todos com um imenso sorriso, mesmo quando o pirralho ligava pela vigésima vez enchendo o saco pra falar com o pai – o pirralho sendo o meu irmão, claro. Com certeza eu não.
Bem... Talvez eu.
É bem especial lembrar de alguém que, todas as vezes em que seus olhares se cruzaram nesse mundo, ambos abriam sorrisos enormes. Enquanto meu pai trabalhou nessa empresa eles trabalharam juntos e ela foi testemunha ocular de todos os eventos da família. Milhares de vezes, esperando o meu pai sair do trabalho – metade porque estava ocupado, a outra metade porque meu pai é desses pau-de-enchente que vai travando em cada esquina do rio pra papear com as pessoas – Doris e eu conversávamos sobre qualquer coisa. Sobre escola, sobre teatro, sobre alguma coisa nas notícias. Ela genuinamente queria saber e ela alegremente contava sobre sua família.
Depois de muitos anos Doris se aposentou, mas lembro que o contato continuava, porque o carinho sempre foi muito verdadeiro. Lembro de visita-la na casa no Bom Retiro, lembro de comer sua deliciosa torta alemã e de que, depois que ela descobriu que gostei ela fez algumas tortas de presente de aniversário – e eu adorei cada uma delas.
A vida em seu fluxo perpétuo veio.
A pandemia em seu fluxo veio.
E, como o fluxo do mundo não para esperando por nossos desejos, Doris acabou partindo hoje.
Quando soube, fui inundado de uma saudade enorme que estava toda aqui, comigo, e que eu nem sabia. Fui me despedir dela, revi as pessoas que trabalharam nessa mesma firma, vi nas lágrimas e sorrisos de todos que estavam lá que fui um entre muitos que foram impactados pelo mesmo carinho, pelo mesmo sorriso.
Voltando pra casa, fui obrigado a procurar uma padaria e trazer um pedaço de torta alemã pra casa. Sei que não vai ser nem de perto a mesma coisa, mas é só pra celebrar que Doris deixou as nossas vidas mais doces e saborosas e que seu corpo se vai, mas seu sorriso fica.
É lindo saber que pessoas deixam seu carinho e amor pela nossa breve eternidade.
Texto de Andrei Moscheto
imagem livre na internet
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